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segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Atitude vadia

No crepúsculo, de um dia chuvoso num inverno particularmente rigoroso, frequentava as escuras e pecaminosas vielas de Lisboa. Concluíra o meu trabalho na fundição. Necessitava algum tempo sozinho, pôr a cabeça em ordem, para conseguir voltar a casa: tinha sido uma semana invulgarmente perturbadora. Assim, muitas horas passaram...
A noite inevitavelmente chegou, trazendo consigo uma calma controvérsia. Passava da meia-noite, a lua reluzia com todo o seu esplendor, eu por outro lado não findava a minha busca, imergindo na escuridão. As estrelas guiavam-me e a lua fazia-me companhia. Contudo, sentia-me só, mas não abandonado: sabia que alguém se preocupava com a minha existência, no entanto, o orgulho impedia-me de pedir ajuda. Continuava a avançar sem ter em vista o regresso...
Enquanto caminhava deparei-me com o rio, que banha a cidade, foi então que finalmente pude ver o meu reflexo! Nesse momento senti um aperto no coração, um nó no estômago; as lágrimas a surgirem nos olhos, os pulmões sem ar. Uma asfixia total. A boca só queria gritar, pois foi nesse momento que ficara lúcido, ciente da realidade, mas com toda a dor, nenhum som produziu.
Quando a primeira de muitas lágrimas desceu pela face, recordo o som de choro que produzi. Foi alto, intenso e melancólico, no entanto simples de entender: O choro proveio de atitudes mal pensadas, de um carácter longe de ser respeitável, de mágoas passadas e feridas abertas. Já mais calmo, depois de seca a face, voltei a contemplar o meu reflexo. O nó no estômago voltou, no entanto não foi dor. Foi repulsa.
Mas com ou sem vergonha, repulsa, dor, mágoa ou tristeza, ainda não conseguia decidir o retorno a casa; o orgulho ainda falava mais alto, tal como a fome que surgira num pensamento fugaz: não comia nada desde o almoço. Sendo tão tarde, não existiam estabelecimentos abertos capazes de me servir uma guarnição. Foi então que decidi encontrar um local confortável para pernoitar. Não tardei muito a decidir-me por um banco de jardim maciço, duro, áspero, húmido e frio pois começava a cair em fraqueza. Não tardei em adormecer.
Mas nem nos sonhos conseguia paz, a consciência pesada perseguia-me! Do mesmo modo que adormeci rapidamente, também assim acordei. Estava simplesmente inquieto.
O sol não tardava em nascer e trazia consigo a primeira claridade, a abertura de alguns estabelecimentos, o o desaparecimento da noite e a seca do chão ainda húmido do dia anterior. Este não causou apenas mudanças no ambiente, trouxe-me esperança.
A fome tinha incrementado, daí, entrei no primeiro café que vi, pedindo o habitual: um café e um croissant de chocolate. Retornado já à rua, sem fome, pude retomar os meus pensamentos.

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