E é assim que mais uma vez escrevo. Escrevo na forma mais
intima que é um pensamento. São as palavras de um pensamento que corre, um
pensamento que quer liberdade, um pensamento que urge, um pensamento que foge,
é o que não permanece, é o que escapa, é o que se liberta, é o que sobrevive.
Pensamento que és tu, ser pensante que sou eu, matéria
orgânica, nascido da poeira que sobrou ao início dos tempos, fruto da matéria
de outrem, nasces de mim.
Escrevo por ti e pelo que me trazes, escrevo porque estou
sozinho, escrevo porque nada do que digas vai alterar a minha solidão, escrevo
porque a esperança faleceu. Escrevo… Apenas escrevo. Escrevo, apesar de
intimamente, porque apenas o sei fazer. Escrevo porque penso e penso porque
escrevo. Penso e escrevo tantas vezes que lhes perco o sentido, não os
distingo. E assim nasce a obra. Seja por mão divina, ou por este cérebro, que
embora novo, já está valido. Nasce a obra.
Obra que não passa de um devaneio, de uma loucura que
persiste em mim, na procura do concreto no abstrato. Obra que é meramente
pensamento, obra fruto do desgosto, obra já batida pelos que tanto sobre ela
escrevem e já escreveram. Obra intemporal que persiste na condição humana que é
o pensamento – constante e ininterrupto durante a vida – onde a racionalização
é o preço, onde as belezas do incerto e do mistério desaparecem, pois tudo o
que sabemos perde a graça.
E como disse é obra, é ação, é pensamento, é inato, é
natural, é genuíno, é intemporal, é ininterrupto, é alienado, é escrita, é
arte, é paixão.