Páginas

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

“Perdi-me dentro de mim”

Perdi-me dentro de mim.
Porque eu não era eu,
E em mim não podia encontrar-me.
Vagueio lentamente pelos estilhaços,
Embaciados e abandonados.
Sujos e disformes,
Que refletem uma alma perdida.

E assim calma flui a alma.
É com tamanho espanto que a encontro,
Triste e achada.

Rapidamente, uma nova energia brota em mim,
Já alguma vez me senti assim?
Será vontade, mito ou simplesmente desassossego?
Finalmente encontrar
O que tantos procuraram
E nenhum conseguiu achar!

                                               Gonçalo Fonseca 

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Querido amigo

  Porque já não te oiço? Porque já não te vejo? Porque me deixaste? Porque ascendeste até ao paraíso sem um último adeus? Porque me abandonaste?


  Tantas dúvidas e sem nenhuma resposta, simplesmente partiste. É a lei da vida. No entanto, ficaste um pouco mais para mim. Sei que estou a ser muito egoísta, mas custa-me saber que nunca mais posso ver-te e muito menos tocar-te. Doí pensar no que me dizias e não levava a sério. Nos conselhos que me davas, no carinho que trazias contigo. Nesse teu sorriso capaz de iluminar um dia. No teu coração dorido de tanta pancada, contudo humilde e de uma bondade extrema.
  Todos os dias penso em ti. Lembro-me dos dias em que chegava a casa e me preparavas o lanche, ou apenas das noites em que me vinhas aconchegar. Da maneira ternurenta que tinhas para comigo, por mais brusco que fosse para ti.

  Mais que tudo nesta vida, queria apenas mais uma oportunidade para emendar tudo o que fiz de mal contigo. Pedir-te desculpa por tudo o que jamais terá perdão.
  Contudo, depois de todas as desculpas, também queria agradecer-te. Agradecer-te por nunca desistires de mim, mesmo quando mais ninguém o fez. Por me apoiares quando todos me abandonaram e fiquei sozinho. Por me acompanhares no melhor e no pior. Sem dúvida nunca te esquecerei, é um facto.
  Doí saber que partiste acredita. Mas espero que mesmo onde estiveres, que estejas feliz, que estejas bem.

  Gostava, por mais que não me consigas responder desse lindo lugar onde espero que te encontres, de ter noticias tuas e não ter que imaginar o que fazes e, numa crença parva, acreditar que estás bem.
Só não quero que seja um adeus, mas apenas um até já.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Palavras..

  Palavras voam, ecoam no espaço, perpetuam na consciência. Principiam leves, cuspidas num ato de tristeza, mágoa e amargura, na tentativa de ferir o próximo. Contudo tornam-se pesadas. Palavras desenfreadas, tempestuosas e amargadas pelos ditos sentimentos, transformam uma conversa num debate, sem espirito crítico, em que todos os participantes têm segurança nas suas convicções.

  Discussões que são iniciadas por atos de egoísmo e perversão dos pobres conjuntos de letras. Parecendo que não, cansa. Levar uma vida a combater algo que nunca poderá jamais ser ganho.


  Porquê perder tempo a tentar ferir alguém que nos esfola? “ Natureza humana” talvez. Por vezes devemos engolir o orgulho e deixar passar. Mas escrever é fácil, fazer é que é difícil.


  No entanto, as palavras não precisam de ser proferidas com o intuito de magoar alguém para que perpetuem na nossa consciência. Por vezes, um simples gesto e uma pequena palavra são o suficiente.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Inspiração das 03 da manhã :/

  Quis contar-te os abraços, os sorrisos, as mágoas e as tristezas. Quis contar-te a minha história, quem sou e de onde venho. Tentei mostrar-te o que era e quem procurava ser.
  Por outro lado, tu, preferiste fingir.Enganar-me. É natural. Contudo, sempre vi o que havia por baixo do teu ar arrogante, frio e solitário. Sempre soube quem eras, de onde vinhas. Apenas não sabia para onde ias, não consegui ver um limite em ti. Talvez fosse por saber que não éramos eternos, ou porque me deixaste tão cedo ainda com tanto por conquistar.
  Apenas o meu coração sabe como doí ouvir falar em ti ou simplesmente ouvir o teu nome pronunciado. E só Deus sabe o quanto ainda te queria mostrar.
  Hoje, por mais que sejas uma ténue memória, uma triste recordação mas ao mesmo tempo uma linda lembrança, sei que não posso viver para sempre assim.
  Tenho saudades das nossas chamadas, das tuas mensagens como adolescentes que outrora fomos. Sinto falta dos teus abraços e do teu sorriso, de poder lembrar-te o quão especial és para mim.
  Nesta noite, foram só mais umas quantas lágrimas, apenas mais uma insónia e mais um simples texto.
  Maldito acidente que te levou ! Ainda hoje recordo o toque do telemóvel, a notícia inesperada e a pequena lágrima que rolou pela minha face. Os teus pais ainda me ligam. Só para saber como estou e o que tenho feito. Na brincadeira trato-os por sogros. Devias ver o quanto riem. Só uns anos mais tarde percebi que tinhas o riso do teu pai, aquela gargalhada alta, alegre e cheia de vida.
  Prometemos ficar juntos até ao fim, espero que não te referisses " Até que a morte nos separe" - Um cliché quase necessário - porque tenho esperanças de te encontrar no Paraíso.
  Realmente, existe uma viagem em que todos embarcamos mesmo que não queiramos. A esta viagem chamamos vida. Para uns uma jornada mais longa, para outros um pouco mais curta. Alguns viajam em primeira classe, outros em económica. Em todas as paragens entram e saem rostos, personagens e poucas são as que permanecem até ao fim.
  Na minha opinião partiste demasiado cedo. 
  "Sempre e nunca são palavras que direi. para sempre te hei de amar e nunca te hei de esquecer."

Gonçalo Fonseca

sábado, 7 de setembro de 2013

Solidão


Só. Somente só. Solipsismo total. Doentio? Um pouco. Demência? Ainda não, mas não deve tardar. A voz ecoa através do espaço, propagando-se infinitamente. As luzes findaram, tudo o que a vista alcança é a escuridão. Ar? Não é necessário. Apesar de não ver, sentia-me a tremer. Todo o meu corpo procurava uma resposta. Será que é isto que nos espera depois da morte? Um vazio sem qualquer hipótese de preenchimento?

Momentaneamente, tudo o que sentia, pareceu abrandar. Os baques do coração eram forçosos e pesados, o som destes ressoavam na minha mente. Estava em êxtase, o pânico enfim apareceu. Senti o suor a descer lentamente pela minha espinha.

Fiquei desorientado, mais perdido e menos capaz que antes. Senti-me no fim, como se ali fosse padecer, contudo feliz. Afim do último suspiro, uma lágrima quente percorre a face, caindo. Saber que estava sozinho era o que mais doía.
Quando realmente pensei que tinha partido para o sono eterno, oiço o som que mais odeio no mundo, despertador.

Abro os olhos, não está tudo escuro, há luz. O dia prometia. Não estava morto e melhor que isso, não estava sozinho. Não passou de um pesadelo.