Nem sempre
é fácil dizer o que pensamos. Nem sempre é difícil explicar como nos sentimos.
Neste momento, olho para mim e vejo-me sozinho, num canto, voltado para as
paredes, num quarto escuro, abandonado. Onde as paredes que se erguem são as defesas
e tudo o que está para lá das mesmas é a vida.
O quarto
não possui a mais erma luz. Apagou-se quando a esperança decidiu partir, quando
as janelas deixaram de existir e o sol de nascer. O soalho também quebrou. Ficou
oco de todos os parasitas que dele decidiram alimentar-se. Agora tenho medo de
andar, de cair num buraco e de não conseguir erguer-me. O teto… Nunca houve um
teto. Nunca existiu material algum que me protegesse da tempestade que urge lá
fora. Portas? As portas fecharam-se quando percebi que não podia fugir.
Estou
isolado, só, doente e cansado. A minha voz, trémula do choro, grita no vazio,
tentando fazer-se ouvir. Onde os pulmões, sem oxigénio, padecem, definham
lentamente só para que compreenda a dor de uma morte lenta. Aguardo com ânsia o
meu último suspiro já que com este findam as lágrimas, o sofrimento, a revolta,
a angústia, a repulsa, o medo, a dor e a vida.
Não
me sinto fraco por desejar a morte. Acolho-a com carinho e andamos de braços
dados, não a temo, somos amigos. Aceito a efemeridade da vida e a volatilidade
que insurge à condição humana.
Ser
Humano é ser triste e insatisfeito. É tentar transpor as fronteiras impostas
pela condição de Ser. É alcançar a imortalidade e plenitude. É ter um fado. Ser
Humano é morrer.