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segunda-feira, 24 de março de 2014

                Nem sempre é fácil dizer o que pensamos. Nem sempre é difícil explicar como nos sentimos. Neste momento, olho para mim e vejo-me sozinho, num canto, voltado para as paredes, num quarto escuro, abandonado. Onde as paredes que se erguem são as defesas e tudo o que está para lá das mesmas é a vida.

            O quarto não possui a mais erma luz. Apagou-se quando a esperança decidiu partir, quando as janelas deixaram de existir e o sol de nascer. O soalho também quebrou. Ficou oco de todos os parasitas que dele decidiram alimentar-se. Agora tenho medo de andar, de cair num buraco e de não conseguir erguer-me. O teto… Nunca houve um teto. Nunca existiu material algum que me protegesse da tempestade que urge lá fora. Portas? As portas fecharam-se quando percebi que não podia fugir.

            Estou isolado, só, doente e cansado. A minha voz, trémula do choro, grita no vazio, tentando fazer-se ouvir. Onde os pulmões, sem oxigénio, padecem, definham lentamente só para que compreenda a dor de uma morte lenta. Aguardo com ânsia o meu último suspiro já que com este findam as lágrimas, o sofrimento, a revolta, a angústia, a repulsa, o medo, a dor e a vida.

            Não me sinto fraco por desejar a morte. Acolho-a com carinho e andamos de braços dados, não a temo, somos amigos. Aceito a efemeridade da vida e a volatilidade que insurge à condição humana.


            Ser Humano é ser triste e insatisfeito. É tentar transpor as fronteiras impostas pela condição de Ser. É alcançar a imortalidade e plenitude. É ter um fado. Ser Humano é morrer.  

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