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quarta-feira, 11 de julho de 2012

Carta ao pai

Carta ao pai:

    Dezanove de  Março, um dia que ficará marcado para sempre na minha memória. Todos os anos eram dias tristes. Trabalhar em prendas para no fim terminarem no lixo.
    Nunca estiveste presente... Mas esta culpa não é só tua. Abandonaste-me, mas suponho que estava escrito assim. Filho de vós, gente da classe média, numa me faltaram bens materiais. Mas nem a minha "mãe", aquela que me trouxe ao mundo me deu amor. Amor de mãe, um amor incondicional, um amor cego, o tal sentimento que me ajudaria a ultrapassar todos e quaisquer obstáculos.
    Dizendo que pais são quem "cria", considero-me órfão. Conheci a amargura, a tristeza e a solidão. Cresci sozinho, tornei-me autónomo e independente. Amadureci e cresci rapidamente e a criança que devia ter sido outrora não existiu.
    Em tempos, nos que a maturidade era pouca, odiei-vos, admito. Não que me orgulhe dessa atitude. Mas agora mais maduro, agradeço-vos do fundo do coração. Toda a vossa indiferença fez de mim quem sou hoje. Um ser humano respeitado mas também um inocente que sofreu à mão de dois seres magoados pela infância árdua.
    Mas no topo de todas as magoas, vem o perdão. Tal como vocês, errei, não possuindo valores nem moral para julgar. O que me resta, então, perdoar? Odiar-vos talvez, mas não é solução. Para vidas amarguradas já bastam as vossas, para além de não querer ser mais um. Um dos que sucumbiu à tristeza da vida.

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